A China emitiu um alerta a países que considerem firmar acordos com os Estados Unidos que possam prejudicar seus interesses, intensificando ainda mais a atual guerra comercial com Washington. No domingo, o Ministério do Comércio chinês declarou que, embora Pequim respeite o direito soberano dos países de resolverem disputas comerciais com os EUA, se opõe veementemente a qualquer acordo que comprometa os interesses da China.
"Se isso ocorrer, Pequim jamais aceitará e adotará contramedidas de forma resoluta", afirmou o ministério. "A China está pronta para fortalecer seus laços e a coordenação com todas as partes, a fim de responder e resistir conjuntamente a atos unilaterais de intimidação."
A declaração enfatizou a disposição da China para o diálogo construtivo e a cooperação com todos os países, inclusive os Estados Unidos, mas alertou que não tolerará ações que comprometam seus interesses nacionais. Pequim instou todas as partes a respeitarem os princípios de respeito mútuo e parceria em igualdade de condições no comércio internacional.
Os comentários do ministério sinalizam que a China está preparada para defender de forma firme seus interesses econômicos diante do aumento das tensões geopolíticas. É provável que Pequim mobilize todas as ferramentas à sua disposição — incluindo pressão diplomática e medidas comerciais retaliatórias — para enfrentar qualquer tentativa de restringir seu crescimento econômico ou sua influência global. O desfecho da situação dependerá, em grande parte, da disposição de todas as partes em se comprometer e engajar-se em um diálogo construtivo.
Para contextualizar, o presidente dos EUA, Donald Trump, suspendeu recentemente por 90 dias grande parte dos aumentos tarifários planejados para a maioria dos países, mas dobrou as tarifas sobre produtos chineses, provocando novo caos nos mercados globais.
O alerta da China ocorre justamente quando diversos países se preparam para iniciar negociações com Washington em busca de isenções ou reduções nas tarifas abrangentes impostas por Trump neste mês. Ao mesmo tempo, os EUA pressionam esses países a reduzirem o comércio com a China, com o objetivo de impedir que Pequim contorne as barreiras tarifárias.
Segundo reportagens da imprensa, os principais assessores econômicos de Trump avaliam a possibilidade de solicitar que outros países adotem chamadas "tarifas secundárias" — sanções, na prática — sobre importações originárias de nações com fortes vínculos comerciais com a China. Washington também pressiona seus parceiros a não absorverem o excedente de produtos chineses.
De acordo com a Reuters, o Vietnã está se preparando para conter a entrada de mercadorias chinesas que estão sendo redirecionadas por seu território rumo aos EUA. Paralelamente, as negociações comerciais entre Estados Unidos e Japão seguem em curso, embora sem avanços concretos, apesar das declarações públicas enfáticas de Trump. Um representante sul-coreano deve visitar Washington em breve, possivelmente iniciando uma nova rodada de negociações.
"Pequim não deveria se preocupar excessivamente com a formação de uma coalizão anti-China pelo governo Trump", avaliou Bert Hofman, ex-diretor do Banco Mundial. "É improvável que os EUA consigam êxito, dado seu estilo imprevisível de conduzir a política." Ainda assim, Hofman reconhece que a China mantém superávits comerciais significativos com diversos países, e que a melhor forma de mitigar tensões seria por meio do estímulo à demanda interna e da coordenação com outras nações — uma abordagem que poderia reduzir o risco de tarifas retaliatórias em resposta à guerra comercial iniciada por Trump.
Neste mês, a China respondeu às novas tarifas norte-americanas não apenas com medidas tarifárias próprias, mas também com o endurecimento do controle sobre exportações de metais de terras raras. As exportações desses materiais foram praticamente interrompidas, à medida que os produtores enfrentam dificuldades para cumprir exigências de licenciamento mais rigorosas. Esse movimento pode ter impacto significativo na indústria automobilística, que depende fortemente desses insumos estratégicos.
Como parte da estratégia para reagir às ações recentes dos EUA, a China intensificou seu engajamento diplomático com o Sudeste Asiático e a Europa. Na semana passada, o presidente Xi Jinping visitou o Vietnã, a Malásia e o Camboja, em uma iniciativa voltada a reforçar a unidade regional e a construção de uma "família asiática" capaz de enfrentar com mais coesão os riscos impostos pela agenda tarifária de Trump.